Quando comecei a desenhar o programa de Experiência Profissional da BCB, sabia que estávamos introduzindo algo bastante inovador no contexto brasileiro. No Reino Unido, é comum que estudantes a partir do Year 10 e Year 12 passem uma semana fora da escola imersos em um ambiente real de trabalho. É uma parte essencial da preparação dos jovens para a vida além da sala de aula. Mas aqui no Brasil, a realidade é bem diferente.
As rígidas leis trabalhistas brasileiras protegem menores de idade, o que faz com que a maioria das empresas não esteja habituada a receber estudantes com menos de 18 anos — mesmo que apenas para observação. Cada oportunidade começa com uma conversa explicando que isso não é um estágio ou emprego formal. É um processo de “work shadowing”: os alunos acompanham profissionais, observam diferentes funções e têm uma visão realista do mundo do trabalho.
Este é o terceiro ano que realizamos o programa, e ele cresce a cada edição — não apenas em número de participantes, mas também em diversidade e impacto. No primeiro ano, parecia que estávamos construindo algo do zero, muitas vezes uma ligação no Teams ou um café por vez. Mas aprendi que esse não é um projeto que se realiza sozinho — e, felizmente, nunca precisei fazer isso sozinha.
A verdadeira magia está na nossa comunidade. Pais, familiares e redes de contato ampliadas foram absolutamente fundamentais. Muitas vezes, uma pergunta simples como “Você conhece alguém que poderia receber um estudante?” leva a oportunidades incríveis. Um pai me conecta com um contato em um hospital, outro abre as portas de uma instituição cultural, e alguém apresenta um diretor de uma grande empresa de logística. O que antes parecia impossível se torna realidade.
Este ano, essas conexões proporcionaram experiências extraordinárias. Dois alunos exploraram engenharia aeroespacial na Embry-Riddle Aeronautical University, uma das universidades de aviação mais renomadas do mundo. Outros passaram um tempo na Academia de Bombeiros de São Paulo, a maior da América Latina, acompanhando bombeiros e presenciando a resiliência exigida nos serviços de emergência.
Alguns alunos mergulharam no setor de logística internacional com a SCANIA e a Ocean Network Express (ONE), visitando o movimentado Porto de Santos para vivenciar o transporte marítimo global de perto. Outros tiveram insights valiosos com a FAMBRAS, uma das principais empresas HALAL do Brasil, que recebeu seis de nossos alunos e compartilhou sua operação de cadeia de suprimentos especializada.
Estudantes interessados em mídia e comunicação estiveram na LLYC, consultoria global de comunicação, enquanto outros exploraram marketing e produção criativa em empresas como Veste e Zmes Marketing. Alguns conheceram o ritmo acelerado da produção de eventos na Personalitte, empresa que atua em parceria com o banco Itaú.
Alunos com interesse em direito acompanharam profissionais do MSA Advogados e do VPBG Grupo de Advocacia. Já aqueles apaixonados pelas indústrias criativas vivenciaram a combinação única de performance e ensino na School of Rock. Para os entusiastas da ciência, houve participação em equipes de pesquisa nos laboratórios de Biomedicina e Física da USP. Outros ainda exploraram a diversidade cultural de São Paulo em instituições como o Bunkyo e o Centro Cultural Coreano.
O que mais me encanta é observar o crescimento dos alunos durante essa semana. Eles deixam de ser apenas estudantes e passam a atuar como jovens profissionais — aprendendo a se apresentar com confiança, fazer perguntas pertinentes, gerenciar seu tempo e se adaptar a ambientes novos. São aprendizados que nenhum livro pode ensinar.
E o aprendizado não termina com a semana. Os alunos refletem sobre suas experiências e preparam apresentações para colegas mais jovens, compartilhando o que viveram e o que significou dar esse primeiro passo no mundo profissional. Isso cria um ciclo de mentoria e inspiração, onde o conhecimento flui não apenas dos professores, mas também entre os próprios alunos.
Claro, o processo ainda enfrenta desafios. Ainda encontro empresas cujas políticas não permitem a presença de menores. Mas cada vez mais organizações entendem que esse programa é sobre educação — segura, estruturada e apropriada para a idade. Muitas que inicialmente hesitaram, hoje se tornaram parceiras entusiasmadas e defensoras da iniciativa.
O impacto vai muito além da exploração de carreiras. Os alunos voltam mais maduros, conscientes de si mesmos e, frequentemente, com uma noção mais clara do que querem — ou não querem — para seu futuro. Para a BCB, esse programa se tornou uma forma poderosa de se conectar com nossa comunidade, aproveitando a generosidade e o talento das nossas famílias para criar oportunidades que simplesmente não existiriam de outra forma.
Tenho muito orgulho do que construímos juntos. Cada pai que fez uma ponte, cada profissional que abriu suas portas e cada aluno que aceitou esse desafio — vocês são a razão do sucesso e crescimento contínuo desse programa.
Para mim, não se trata apenas de preparar os estudantes para a universidade ou para o mercado de trabalho. Trata-se de prepará-los para a vida.